A impressionante queda na adesão às manifestações do 7 de Setembro revela um fato cada vez mais inegável: o povo brasileiro já não suporta mais a dicotomia extrema entre direita e esquerda — e essa exaustão deve servir de alerta para quem ainda aposta no discurso radical.
O vazio nas ruas mostra o que a política ainda não enxergou
Enquanto em anos anteriores as ruas ferviam com milhares de manifestantes, em Cachoeiro de Itapemirim a situação foi outra: na Linha Vermelha, em frente ao Museu Ferroviário, no bairro Guandu, não havia mais do que 20 pessoas mobilizadas, em contraste gritante com 2022. O mini trio elétrico e meia dúzia de apoiadores — convocados por Léo Camargo e Callegari para orar por Bolsonaro, atacar o STF e colar adesivos com os dizeres “Fora Lula” — falharam completamente em atrair multidões.
Esse esvaziamento é eloquente sobre o desgaste do modelo política-instrumental que mobiliza com frases prontas e guerras simbológicas. E isso decorre de um fato simples: o povo está farto do extremismo — tanto de um lado quanto do outro.
A direita fragmentada acentua o desgaste
No Espírito Santo, o principal nome da direita, o senador Magno Malta (PL), vem enfrentando dificuldades em unir sua base. Antes visto como a referência inconteste do campo conservador, ele agora sinaliza uma mudança de curso: após uma fase marcada por isolamento duro, o PL local busca agora diálogo com outras forças de direita e centro-direita para recompor alianças para 2026.
Essa busca por novas articulações partidárias reflete uma percepção clara: a repetição dos embates extremos já cansou a população e reduziu o entusiasmo popular.
A mensagem das ruas: o povo quer política além da guerra cultural
A aparente “falência das ruas” em Cachoeiro — e o desinteresse, mesmo em pautas emocionalmente carregadas como “Fora Lula” ou “Orar por Bolsonaro” — sinaliza que a política precisa dar um passo além do confronto ideológico. O público não se mobiliza mais por consigna, mas por propostas concretas, projetos viáveis e identificação. O novo eleitor exige renovação e autenticidade.
É isso o que os analistas já começam a notar: discursos vazios, com forte retórica mas sem compromisso real com o cotidiano, deixam de ter energia suficiente para lotar avenidas ou conquistar votos.
Reinvenção obrigatória para 2026
Se ainda há reservas de respaldo político — no campo da direita ou da esquerda — muito disso se deve à velha guarda, lideranças carimbadas ou à máquina partidária. Mas para reconquistar a confiança e o engajamento do povo, será necessário construir modelos mais amplos, menos polarizantes e mais orientados a resultados concretos.
Magno Malta, ao mudar o tom e buscar alianças, sinaliza que percebeu essa necessidade. Mas toda a política encara agora um desafio: não basta conquistar bases duras — é preciso atrair quem já desistiu de se posicionar.
Conclusão
O 7 de Setembro em Cachoeiro foi mais que silencioso — foi uma denúncia tácita: a polarização extremada desgastou-se. Aqueles que insistem em exacerbar o conflito estarão fora da história. Resta agora aos políticos reinventarem seus discursos, liderar propostas e não gritos — e, principalmente, reconquistar aquilo que mais importa: o bem-estar público e o senso coletivo de direção.