A um ano do início oficial da campanha, o cenário político no Espírito Santo já está bastante movimentado. Desde o começo de 2025, quando o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) declarou estar “pronto e preparado” para disputar o governo, a pré-campanha tomou corpo e mudou o ritmo da sucessão estadual. Oito meses depois, o que se observa é a consolidação da pré-candidatura de Ricardo como favorito dentro do grupo governista, liderado por Renato Casagrande (PSB).
No início, havia muitas dúvidas sobre a viabilidade de Ferraço. Político com longa trajetória desde os anos 1980, ele já havia sido preterido em 2010, sofrido uma derrota dura ao Senado em 2018 e passado boa parte do atual governo em posição discreta. Questionava-se se teria fôlego, carisma e apoio suficientes para se manter competitivo. Hoje, a resposta é clara: Ricardo se firmou como o pré-candidato do Palácio Anchieta. O governador e seus aliados já não escondem que ele é o nome da preferência do grupo, e os números e apoios conquistados confirmam esse favoritismo.
Um dos fatores centrais dessa consolidação é a lógica da sucessão. Casagrande pretende disputar o Senado em 2026, o que o levará a renunciar em abril. Nesse caso, Ricardo assume o governo e concorre em condições de reeleição. A solução agrada ao governador e à base aliada porque garante continuidade administrativa, dá a Casagrande segurança para sair e ainda acelera a renovação de lideranças no futuro.
Além da linha sucessória, há o apoio explícito do próprio Casagrande, que deixou de lado a cautela e passou a declarar abertamente que Ferraço é seu projeto prioritário. A previsibilidade característica do governador reforça essa escolha: Casagrande não costuma surpreender, tende a agir de acordo com o que já sinalizou, e isso dá ao vice confiança política.
Nos últimos meses, Ricardo também tem atraído aliados importantes. Figuras como Vidigal, Euclério e Gilson Daniel já anunciaram apoio. Partidos de peso, como PSB e Podemos, também aderiram, somando dezenas de prefeitos em seu palanque. A projeção política do vice cresceu com viagens pelo Estado, agendas positivas e a coordenação de programas estratégicos, como o Estado Presente, que colhe resultados expressivos na área da segurança.
Outro ponto decisivo é o momento político do governo. Pesquisas recentes apontam aprovação de 80% para a gestão de Casagrande. Estar à frente do Estado durante a campanha permitirá a Ricardo herdar parte desse prestígio e capitalizar obras e programas bem avaliados. Isso, somado ao forte apoio empresarial, amplia sua força no tabuleiro eleitoral.
Ricardo também conta com o controle do MDB no Espírito Santo, o que lhe assegura legenda robusta, enquanto adversários, como Arnaldinho Borgo, ainda buscam siglas para viabilizar suas candidaturas. No campo da competitividade, os números iniciais animam: em levantamento recente, Ferraço apareceu em segundo lugar, próximo de Lorenzo Pazolini, líder nas intenções de voto.
Apesar de sua trajetória marcada por altos e baixos, Ricardo chega a este momento com uma base política e institucional consolidada. É evidente que a candidatura depende muito da articulação feita pelo grupo de Casagrande, o que o mantém politicamente atrelado ao governador. Mas, justamente por isso, interessa ao Palácio Anchieta. O que se vê, portanto, não é apenas o surgimento de um candidato, mas a construção cuidadosa de um projeto político em que Ricardo Ferraço se coloca como herdeiro direto de Casagrande na sucessão de 2026.