10/05/2022 às 12h02min - Atualizada em 12/05/2022 às 00h00min

Só vacinação em massa pode conter a disseminação do Sarampo no Brasil

País vive risco de epidemia, com a confirmação de quase 10 mil casos, neste ano. Baixa cobertura vacinal é a principal causa da transmissão em larga escala.

SALA DA NOTÍCIA Leticia Simões
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Uma doença que, em 2016, estava erradicada no Brasil, volta a colocar autoridades médicas em estado de alerta, devido ao grande risco de se tornar uma epidemia: o sarampo. Apesar de fazer parte do Calendário Nacional de Vacinação e ser ofertada gratuitamente pelo SUS, a Tríplice Viral – vacina que protege contra Sarampo, Caxumba e Rubéola – tem tido pouca procura nas unidades públicas de saúde. O vírus voltou a circular com mais ênfase no país em 2018 e, desde então, já são mais de 20 mil casos registrados. Raquel Bandeira, infectologista e professora de Medicina do UniBH, é categórica: “somente a imunização de rebanho é capaz de conter a doença. O sarampo tem a maior taxa de transmissão entre as doenças infectocontagiosas, podendo levar a quadros muito graves e até mesmo a óbito, sobretudo, em crianças menores.”

De acordo com a médica, o Sarampo possui uma taxa de transmissão – chamada na medicina de “taxa de ataque” – de 90%. “Isso quer dizer que, em cada 10 contatos feitos por uma pessoa contaminada, 9 transmissões acontecem”, explica. Raquel ressalta ainda que para conter o alto índice de contágio da doença, é necessária uma cobertura vacinal acima de 95%.

Em apenas três anos, a cobertura de vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola no Brasil caiu de 93,1%, em 2019, para 71,49% em 2021. “A queda da imunização se deve a diversos fatores, mas o principal motivador são os movimentos antivacina. A propagação de notícias falsas em torno das vacinas tem grande peso nesse cenário. Houve uma pesquisa, publicada há muito tempo, pelo New England Journal of Medicine, associando o sarampo ao autismo. Nunca houve comprovação científica dessa tese e logo esse estudo foi retirado do ar. Era tudo uma farsa! No entanto, o pouco tempo de exposição serviu foi suficiente para dar base para que os movimentos antivacina propagassem esse equívoco, como sendo verdade”, exemplifica Raquel.

A infectologista ratifica que a vacina contra o sarampo é 100% segura para todas as pessoas sem comprometimento da imunidade. “Por ser uma vacina de vírus vivo, ela não deve ser tomada por pacientes imunossuprimidos. Nesses casos, a recomendação é consultar médico antes. Com exceção dos imunossuprimidos, não há outra maneira de a população se proteger, a não ser, tomando a vacina. Não existe na história medicina nenhuma doença viral que foi combatida ou erradicada com qualquer outro procedimento que não fosse por meio da vacinação. Não existe outra medida.”

Raquel ressalta ainda que as fake news prejudicam estratégias de saúde pública de contenção de outras doenças infectocontagiosas controladas por vacinas, contribuindo para a queda da cobertura vacinal como um todo. “Um exemplo é a poliomielite, que causa a paralisia infantil. O Brasil sempre teve uma cobertura altíssima de vacinação contra a pólio. Mas, a adesão também caiu. Com isso, o vírus da poliomielite corre o risco de voltar, caso a cobertura vacinal continue baixando”. A professora do UniBH revela que já existem registros de surto de pólio em outros países. “Além dela, doenças como caxumba, rubéola e difteria correm o risco de voltar, se não houver vacinação de crianças e, para algumas indicações específicas, adultos.”

No Brasil, a cobertura da poliomielite chegou a quase 100% em 2015. Quatro anos depois, houve queda, chegando a uma taxa de  84% e, em 2021, caiu drasticamente, atingindo 67% da população.

 

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