Divulgação A violência e a corrupção são as duas questões que mais preocupam os jovens brasileiros com idade entre 15 e 29 anos, juntamente com outras questões diretamente ligadas: drogas e álcool.
Estas conclusões são apenas uma pincelada da radiografia dos jovens revelada no último relatório Jovens na Ibero-América 2021 realizado pelo Observatório da Juventude na Ibero-América, promovido pela Fundação SM. Foram realizadas 13.500 entrevistas com jovens de todos os estratos sociais no México, Peru, República Dominicana, Chile, Brasil, Argentina, Equador, Colômbia e Espanha.
De acordo com o relatório, os jovens brasileiros são os que mais demonstram preocupação com esta questão na Ibero-América.
Além disso, 41% dos jovens pesquisados declararam ter presenciado ou sido vítimas de conteúdo violento ou sexual na Internet. 23% também declararam ter testemunhado assédio e intimidação através da Internet, 33% agressões físicas a amigos ou conhecidos, enquanto 30% declararam ter presenciado violência policial. Maus-tratos na escola e no trabalho são outros problemas relatados por jovens brasileiros, já que 32% afirmaram ter presenciado maus-tratos no âmbito escolar.
Coisas que lhes importam Talvez por causa desta preocupação com a violência, os jovens brasileiros afirmam que a segurança cidadã é uma das questões que mais valorizam, atrás apenas da família (99%), da saúde (98%) e da educação (98%).
A segurança cidadã ocupa a quarta posição: 95% afirmam que é uma das coisas mais importantes na vida, embora também dizem que confiam nas Forças Armadas (67%), na Polícia (60%) e no sistema judiciário (47%). A pesquisa aponta que os jovens brasileiros são os que mais confiam nessas instituições na Ibero-América. Em contraste, só 17% dizem que confiam nos partidos políticos e 31% no governo.
Por outro lado, os jovens brasileiros são também os mais conscientes na Ibero-América em relação à desigualdade de gênero, outra de suas maiores preocupações. Os jovens brasileiros classificaram a situação das mulheres como pior em termos de salários (55%), oportunidades de trabalho (50%) e distribuição das tarefas domésticas (52%), juntamente com a distribuição das tarefas familiares.
Da mesma forma, preferem viver em sociedades diversas (64%); consideram que os imigrantes são tratados com indiferença (31%) e desconfiança (20%) e a grande maioria estaria disposta a iniciar um projeto migratório.
Discriminação e nível de liberdade O relatório também destaca outros aspectos, como o fato de que quase 60% dos jovens brasileiros pesquisados afirmam ter se sentido discriminados, sendo a aparência física (14%) e a maneira como se vestem (14%) os motivos mais comuns.
Em contraste, a falta de liberdade é um sentimento compartilhado pela maioria dos jovens ibero-americanos. 69% dos jovens brasileiros pensam que têm menos liberdade do que deveriam, enquanto apenas 21% afirmam ter um nível de liberdade adequado.
Críticos de sua geração Assim como os demais jovens ibero-americanos, projetam uma visão crítica de sua geração (rebeldes, muito preocupados com a imagem, consumistas) e demandam uma educação afetivo-sexual que enfatize aspectos como: prevenção de doenças (HIV/AIDS), métodos contraceptivos, amor e relações sentimentais, problemas nas relações sexuais, orientação e prevenção à violência e abuso sexual.
Desigualdade e estudo As desigualdades sociais e econômicas continuam prejudicando as expectativas de futuro dos jovens ibero-americanos em situação de vulnerabilidade. “O fato de que o Brasil, com um vasto território e seus grandes recursos naturais, bem como infraestruturas e desenvolvimento econômico maior do que muitos países da região, mostre tais taxas de desemprego ou de pessoas sem estudos nem trabalho entre sua população jovem, merece uma análise mais profunda e que deve ser estendida a toda a região”, afirmam os autores do relatório.
Em 2019, o Brasil já era o país da Ibero-América com a maior taxa de jovens que não estudavam ou trabalhavam: 14,29% dos pesquisados. Também teve a maior taxa de desemprego, com 6,93% dos pesquisados. Essa circunstância, depois da pandemia, também teve repercussões nos demais países, agravando a situação em todos eles.
Para Paulo Carrano, um dos autores do relatório e professor da Faculdade e Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), "a educação é uma das principais preocupações dos jovens ibero-americanos, pois eles acreditam que precisam dela para poder ascender socialmente, também mostram preocupação com a incerteza do futuro, que é marcada pelas desigualdades sociais e econômicas".
Prestígio e confiabilidade dos relatórios da Fundação SM Jovens na Ibero-América 2021 é parte de um trabalho mais extenso que a Fundação SM está desenvolvendo com o Observatório da Juventude na Ibero-América (www.observatoriodajuventude.org). Trata-se do décimo estudo realizado pela Fundação SM para conhecer as preocupações, interesses e motivações da juventude.
Mayte Ortiz, diretora-geral da Fundação SM, ressalta que o relatório é mais um documento que marca o fim de um período de trabalho “gostaríamos que fosse o começo ou o impulso para que toda a comunidade educacional trabalhasse em colaboração para definir itinerários de formação de cidadãos e cidadãs globais que atuam a partir da ética do cuidado para alcançar verdadeiras transformações sociais para o bem comum”.
Os autores e responsáveis pelo estudo, Juan María González-Anleo, Martha Lucia Gutiérrez Bonilla, Juan Raúl Escobar Martínez, Eliane Ribeiro, João Pedro da Silva Peres, Lorenzo Gómez Morín Fuentes, Paulo César Rodrigues Carrano, Maria Pereira, Mateo Ortiz-Hernández, Natalia Reyes Fernández, Ariana Pérez e Paloma Fontcuberta, têm ampla experiência em pesquisas no âmbito da juventude e participaram anteriormente de outros relatórios e pesquisas da Fundação SM.