Editorial
A mais recente aparição pública do ex-governador Paulo Hartung, em um podcast sobre segurança pública, revelou um abismo entre o que ele diz e o que fez enquanto comandou o Espírito Santo por três mandatos.
Ao comentar a Operação Contenção no Rio de Janeiro, Hartung apresentou-se como especialista no tema, citando exemplos de Bogotá e Nova York — mas ignorou completamente o Estado que governou por mais de uma década, onde deixou marcas profundas de descaso e caos na segurança pública.
Seu discurso, baseado em teorias estrangeiras e frases de efeito, soou como uma tentativa de dar lições que ele próprio jamais aplicou. Durante a entrevista, Hartung descartou medidas de endurecimento penal, chamou de “ineficazes” as propostas de punição mais severa a traficantes e terceirizou responsabilidades ao governo federal, defendendo que o COAF e o Banco Central deveriam liderar o combate ao crime organizado — como se os estados fossem meros espectadores.
“Tem solução para o Rio de Janeiro? Tem solução. Muitos povos já enfrentaram problemas como esse…”, afirmou, sem citar o Espírito Santo uma única vez.
O fracasso exposto: o caos de 2017
Se há um exemplo concreto de descontrole, ele está em sua própria história. Em fevereiro de 2017, sob seu comando, o Espírito Santo mergulhou na maior crise de segurança de sua história, com a greve total da Polícia Militar.
Foram 219 mortes em poucos dias, o dobro do número de traficantes abatidos na operação que Hartung hoje critica.
Naquele período, as ruas capixabas foram tomadas pelo crime, e a população ficou refém da ausência do Estado. Faltavam policiais, coletes e viaturas — reflexo direto de anos de sucateamento e falta de investimentos.
Durante o último mandato de Hartung, o Estado perdeu 1.400 policiais, sem reposição por concursos públicos, deixando as corporações em colapso.
O resultado: Espírito Santo entre os mais violentos do país
Até 2010, no final de seu segundo mandato, Serra e Cariacica figuravam entre as dez cidades mais violentas do Brasil, segundo o Atlas da Violência.
Havia 17 mil homicídios sem conclusão investigativa, e o Espírito Santo chegou a registrar 58 homicídios por 100 mil habitantes, um dos piores índices do país — números comparáveis à Venezuela.
O contraste: o Estado Presente transformou a realidade
A virada começou após a sua saída, com o programa Estado Presente em Defesa da Vida, criado em 2011 por Renato Casagrande.
Com integração total entre PM e Polícia Civil, uso de tecnologia (como Cerco Inteligente, reconhecimento facial, teleflagrante e CIAT) e forte investimento social, o Espírito Santo saiu do mapa da violência.
De 2011 a 2024:
- 22 mil prisões qualificadas
- 53 mil armas apreendidas
- 8.840 novos agentes contratados
- 214 escolas em tempo integral implantadas
- 290 mil jovens atendidos em Centros de Juventude
Em 2024, o Estado atingiu 20,6 homicídios por 100 mil habitantes, abaixo da média nacional.
Hartung x Estado Presente: o espelho da eficiência
| Indicador | Gestão Hartung | Programa Estado Presente |
|---|---|---|
| Modelo de segurança | Ações isoladas e reativas | Integração entre forças e corresponsabilidade |
| Efetivo policial | Redução de 1.400 policiais | Expansão com 8.840 novos agentes |
| Tecnologia | Praticamente inexistente | Cerco Inteligente, CIAT, reconhecimento facial |
| Taxa de homicídios | 58,3 por 100 mil | 20,6 por 100 mil |
| Serra (ranking nacional) | 9ª mais violenta (2010) | 49ª (2022) |
| Cariacica | 11ª (2010) | 48ª (2022) |
⚖️ A ironia do discurso
Hartung tenta agora ressignificar o passado que o condena, posando de teórico da segurança pública.
Mas sua fala é como um espelho que reflete o próprio fracasso: um Estado desarmado, servidores desmotivados e uma população refém da criminalidade.
Enquanto o Espírito Santo de hoje mostra resultados concretos — sob uma política de integração, tecnologia e investimento social —, o ex-governador tenta reescrever sua história com palavras, não com fatos.
Em resumo: Paulo Hartung virou exemplo do ditado que define sua própria trajetória —
“Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço”.






