A credibilidade de algumas pesquisas eleitorais divulgadas recentemente no Espírito Santo voltou a ser questionada após a Rede News Grande Vitória FM revelar um suposto esquema de distribuição massiva de links de “pesquisas” por WhatsApp, sem qualquer metodologia científica. Ouça áudio no final do texto!
Segundo a rádio, um responsável por um instituto de pesquisa localizado em Sergipe teria admitido ter realizado 20 mil disparos de mensagens para números do Espírito Santo, convidando pessoas aleatórias a responder um levantamento sobre a disputa pelo Governo do Estado em 2026.
O resultado desse levantamento, divulgado em alguns portais e redes sociais, apontaria o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), na liderança em um cenário hipotético para o Governo do Estado.
Porém, o áudio obtido pela Rede News evidencia que o próprio responsável pelo instituto reconhece que a pesquisa não foi presencial, não utilizou critérios estatísticos rígidos, não houve controle de origem dos números contatados e que o método se baseou apenas no envio de links online, sem confirmação de identidade ou perfil dos respondentes.
“Não tem confiabilidade nenhuma”, afirma radialista
A gravação divulgada pela emissora mostra uma conversa em que o responsável pelo instituto confirma que:
não houve equipe presencial no Espírito Santo;
a coleta foi feita apenas por formulários digitais;
os links foram distribuídos a partir de um banco de dados de números com DDD capixaba;
qualquer número recebeu o link — independentemente de região, idade, escolaridade ou local de votação.
Por que pesquisas eleitorais feitas online não são confiáveis?
Especialistas em estatística e ciência política afirmam que levantamentos feitos exclusivamente pela internet não podem ser considerados pesquisas eleitorais. A seguir, os principais problemas técnicos:
1. Falta de amostragem científica
Pesquisas sérias precisam representar a população — idade, renda, escolaridade, gênero, regiões do município/estado.
Pesquisas online dependendo de quem clica no link = amostra enviesada.
2. Facilmente manipuláveis
Grupos organizados podem votar em massa para impulsionar um candidato.
Não há proteção contra bots, automação ou múltiplas respostas usando redes, navegadores ou aparelhos diferentes.
3. Sem controle de identidade
Não se confirma:
se o respondente é eleitor;
se mora no município;
se é maior de 16 anos;
se respondeu mais de uma vez.
4. Sem validação demográfica
Pesquisas registradas usam quotas por região, gênero, faixa etária e renda.
Pesquisas online não fazem nenhum filtro.
5. Sem margem de erro ou intervalo de confiança
Sem amostra representativa, não é possível calcular estatisticamente se o resultado se aproxima da realidade.
6. Público nada representativo
Quem responde uma pesquisa enviada por WhatsApp tende a ser:
mais engajado;
mais ativo politicamente;
mais conectado;
pertencente a grupos específicos.
Ou seja: não reflete o eleitorado real.
Registro obrigatório de pesquisas no TSE
De acordo com o TRE-ES, pesquisas eleitorais só têm validade jurídica quando registradas na Justiça Eleitoral, com:
metodologia;
amostragem;
forma de coleta;
margem de erro;
intervalo de confiança.
Esse registro é obrigatório em anos eleitorais.
Caso haja suspeita de irregularidades, o órgão orienta a população a acionar o Ministério Público Eleitoral.
O que está em jogo
Pesquisas com metodologia frágil — ainda que apresentadas como eleitorais — podem induzir o eleitor, influenciar percepções e serem usadas para fins políticos, especialmente em pré-campanhas.
O caso revelado pela Rede News Grande Vitória FM reacende o debate sobre a responsabilidade de institutos, portais e perfis que divulgam levantamentos sem rigor técnico, e reforça a importância de se confiar apenas em pesquisas:
✅ registradas no TSE
✅ com amostragem científica
✅ realizadas por profissionais
✅ transparentes em sua metodologia
Em um cenário eleitoral cada vez mais digital e polarizado, garantir a qualidade da informação é fundamental para um processo democrático saudável.
Ver essa foto no Instagram






