Cachoeiro de Itapemirim vive um dos episódios mais graves de sua história recente em termos de degradação ambiental e descaso com a saúde pública. A BRK Ambiental, concessionária responsável pelo tratamento de esgoto da cidade, foi flagrada lançando diretamente no Rio Itapemirim, sem qualquer tipo de tratamento, o esgoto de mais de 60 mil residências. O caso, que se prolongou por quatro dias ininterruptos, continua em parte até hoje, uma vez que todo o esgoto da margem sul da cidade segue sendo despejado no rio, sem previsão de solução.
A gravidade da ocorrência mobilizou diferentes órgãos de fiscalização e controle, incluindo a Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Cachoeiro de Itapemirim (Agersa), a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema). A repercussão chegou também ao Ministério Público, que recebeu notícia-crime ambiental contra a concessionária.
“Tentaram esconder o fato, mas o cheiro denunciou”
Em nota dura, a Agersa confirmou a autuação da BRK Ambiental, destacando que a empresa não possui sequer um plano de contingência para situações emergenciais:
“Efetuamos autuações. Lavramos auto de infração juntamente com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente. A ocorrência foi motivada por falha na execução da manutenção. Inclusive formalizamos notícia crime ambiental no Ministério Público contra a concessionária. Ocorrência muito grave. A concessionária não possui plano de contingência. Todo o esgoto da cidade por quatro dias foi lançado diretamente no rio sem tratamento. Hoje todo o esgoto da margem sul continua sendo lançado sem tratamento. Essa situação permanecerá até a conclusão da obra. Estamos acompanhando, mas as ações são de competência da concessionária. Sem previsão de conclusão. Tentaram esconder o fato, mas o cheiro denunciou”.
A declaração escancara não apenas a gravidade técnica do problema, mas também a postura negligente da empresa, que teria tentado minimizar ou ocultar o impacto da poluição até que o odor fétido chamasse a atenção da população.
Repercussão política e cobrança por punições severas
O caso também repercutiu no meio político. O vereador Vitor Azevedo se manifestou com veemência nas redes sociais, denunciando o que classificou como um “crime ambiental e de saúde pública”:
“O que você está prestes a ver não é apenas uma denúncia: é a realidade que ameaça nossa cidade, nosso meio ambiente e a saúde de todos que dependem do Rio Itapemirim. A BRK Ambiental está despejando esgoto diretamente no rio, causando poluição, mau cheiro, contaminação e danos irreversíveis à fauna, flora e à população. (…) Estamos falando de um desrespeito à lei, à natureza e a todos nós, cidadãos que confiamos em empresas e autoridades para garantir saneamento adequado. Chegou a hora de mostrar que a população de Cachoeiro de Itapemirim não vai se calar.”
Azevedo pediu que órgãos como Ibama, Iema e Ministério Público atuem com rigor, aplicando multas pesadas e punições exemplares à concessionária.
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Consequências para o rio e para a população
O Rio Itapemirim, que já sofre historicamente com assoreamento, enchentes e poluição, foi novamente transformado em depósito de esgoto doméstico. As consequências imediatas são o mau cheiro que tomou conta de vários bairros, a contaminação da água e o risco direto à saúde da população que utiliza o rio para pesca, lazer ou mesmo atividades econômicas.
Ambientalistas alertam para os danos irreversíveis à fauna e flora aquática, destacando que a recuperação de ecossistemas impactados por despejo de esgoto sem tratamento pode levar anos.
Falta de transparência e histórico de falhas
O episódio evidencia, mais uma vez, a falta de transparência e de planejamento da BRK Ambiental. A ausência de um plano de contingência é considerada inaceitável diante da magnitude do contrato que a empresa mantém com o município. Mais grave ainda é a tentativa de silenciar ou esconder o ocorrido, deixando a população sem informações claras sobre os riscos.
A BRK, que deveria garantir qualidade no saneamento básico, tem colecionado críticas da sociedade civil e do Legislativo municipal por falhas na prestação do serviço. Agora, o episódio se soma ao que pode ser considerado o maior desastre ambiental provocado pela concessionária em Cachoeiro de Itapemirim.
Pressão por responsabilização
O caso está sob investigação do Iema e do Ministério Público, mas a pressão popular cresce para que as punições sejam não apenas financeiras, mas também estruturais — obrigando a BRK a investir em planos de prevenção, contingência e transparência.
O Rio Itapemirim é um patrimônio natural e histórico de Cachoeiro de Itapemirim, e vê-lo transformado em esgoto a céu aberto é um símbolo do descaso de uma empresa que, em tese, deveria ser guardiã da saúde ambiental da cidade.
A sociedade, vereadores e órgãos de controle parecem convergir em um ponto: não é mais aceitável que a BRK Ambiental trate a cidade e seu rio como depósitos de rejeitos. O episódio exige respostas rápidas, punições duras e, sobretudo, respeito ao meio ambiente e à população.