A recente aproximação entre Paulo Hartung (PSD) — ex-governador do Espírito Santo — e Lorenzo Pazolini (Republicanos), atual prefeito de Vitória e pré-candidato ao governo, acende um alerta preocupante sobre a credibilidade da segurança pública no estado. Para muitos especialistas e cidadãos, trata-se de uma aliança que fere o princípio da responsabilidade administrativa e retoma memórias traumáticas de uma crise histórica.
A crise de 2017: cicatrizes que não foram curadas
Durante o governo Hartung, em 2017, o Espírito Santo sofreu uma grave paralisação da Polícia Militar, que resultou em caos social, violência exacerbada e enorme prejuízo à população.
Estima-se que 204 pessoas tenham morrido naquele período, com saques, falências de empreendimentos e uma quebra de ordem que deixou marcas profundas. O próprio Hartung depois reconheceu: “essas anistias são um equívoco grotesco” ao se referir à forma como tratou o motim.
Essa história não é apenas página virada: ela ainda reverbera no cotidiano de cidadãos que sofreram perdas irreparáveis — familiares mortos, empresários falidos, policiais marcados por depressão ou suicídio em meio à crise de 2017.
Aliança
Agora, Hartung resolve colocar seu peso político ao lado de Pazolini. A pergunta que ecoa é simples: como um ex-governador que viu a segurança ruir em seu mandato pode se unir a um dos gestores de segurança pública municipal da capital, projetando-se para a disputa estadual?
Essa aliança — além de carregada de simbolismo — transmite uma insegurança: o modelo de governança que gerou a turbulência da segurança em 2017 seria revisitado ou redefinido?
Pazolini, enquanto delegado de carreira da Polícia Civil, carrega legitimidade na área de segurança. Contudo, ao se aliar a quem esteve à frente do Executivo durante uma das piores crises do estado, arrisca assumir parte da responsabilidade política pelas falhas históricas. Já Hartung, que desistiu de disputar em 2018 e se ausentou do cenário eleitoral desde então, parece usar essa nova parceria como forma de manter influência e protagonismo político no ES — talvez esquecendo que o eleitor capixaba ainda guarda as cicatrizes de sua gestão.
Aliança que exige explicações
Não se trata apenas de articulação eleitoral. É uma questão de histórico, responsabilidade e coerência pública. Aos olhos da sociedade capixaba, a aliança entre Hartung e Pazolini joga com fogo, pois revive memórias da insegurança, da instabilidade e do abandono institucional. O tema “segurança pública” não pode ser tratado como moeda eleitoral — deveria ser o pilar de qualquer projeto de governo.
Enquanto Hartung e Pazolini projetam estratégias para 2026, cabe aos cidadãos — e à imprensa — exigir que esse projeto venha acompanhado de clareza, reparação àquelas vítimas e uma proposta concreta de segurança que rompa com o passado. Sem isso, resta apenas a sensação de que o lobo mudou de pele, mas não de natureza.






