O Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES) determinou que o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), e o presidente da Câmara da Capital, Anderson Goggi (PP), retirem dois outdoors instalados em São Mateus. A decisão, assinada na sexta-feira (19), aponta que as peças configuram propaganda eleitoral antecipada, prática vedada pela legislação, e fixa multa de R$ 1 mil por dia em caso de descumprimento.
Os outdoors traziam a foto dos dois políticos e mensagens de felicitação pelo aniversário do município do norte capixaba. Um deles foi colocado em área estratégica: a entrada do Parque de Exposições, onde a principal celebração da data ocorreu. Para a Justiça, não havia nada de “ingênuo” nessa iniciativa. O juiz Adriano Sant’Ana Pedra destacou que as peças tinham “conteúdo político-eleitoral com o intento de incutir no eleitorado sua pré-candidatura para o pleito de 2026”, além de apresentarem risco de desequilíbrio no processo eleitoral.
Um velho truque disfarçado de homenagem
Embora o presidente da Câmara tenha informado que a retirada já foi feita, o episódio expõe uma prática recorrente na política brasileira: o uso de datas comemorativas e mensagens aparentemente institucionais como disfarce para autopromoção política. Sob o pretexto de parabenizar o município, outdoors são estrategicamente espalhados em pontos de grande visibilidade, funcionando como propaganda velada muito antes do período permitido.
Não é à toa que o juiz falou em “dano irreparável ou de difícil reparação”. O impacto da exposição, ainda que temporário, já cumpriu seu papel: fixar na mente do eleitor o rosto e o nome dos pré-candidatos.
O jogo do “todos fazem”
Em sua defesa, Anderson Goggi alegou que não apenas ele e Pazolini recorreram ao expediente. Segundo o vereador, outros políticos também espalharam outdoors semelhantes pela cidade, e o partido Agir, autor da ação, deveria representar contra todos. A justificativa, no entanto, não anula a irregularidade: reforça apenas a naturalização de um comportamento que mina a igualdade no jogo eleitoral.
A tática do “se todos fazem, não é errado” mostra como parte da classe política insiste em tratar a legislação eleitoral como obstáculo a ser contornado, não como regra a ser respeitada. No fim, prevalece a lógica da disputa desigual, em que quem tem mais recursos e visibilidade sai na frente, mesmo antes do início oficial da campanha.
O silêncio e a omissão
Enquanto Goggi tentou se defender, a assessoria de Pazolini preferiu o silêncio. Um silêncio que, por si só, revela desconforto diante de uma prática que destoa do discurso de legalidade e transparência que ambos afirmam defender.
O episódio reforça a necessidade de maior vigilância da Justiça Eleitoral e de posicionamento firme da sociedade civil. Se o objetivo for realmente garantir eleições limpas, não basta punir após a exposição: é preciso coibir desde o primeiro movimento esses “atalhos eleitorais” travestidos de homenagem.