Cemitérios de SP preservam histórias de personalidades negras

Cemitérios de SP preservam histórias de personalidades negras

Notícias Corporativas

Na semana em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, é essencial lembrar e honrar a memória de personalidades negras que marcaram a história do Brasil. Os cemitérios de São Paulo guardam parte dessa herança, preservando o legado de advogados, artistas, atletas e líderes políticos que enfrentaram desafios e romperam barreiras em busca de igualdade, justiça e reconhecimento.

Para a historiadora Viviane Comunale, esta é uma data importante para refletir e dar voz a essas histórias. “O Dia da Consciência Negra deve ser um momento de reflexão. Cada uma dessas personalidades, em seu tempo, rompeu preconceitos e se destacou por suas qualidades e pela luta por um Brasil melhor. Vivemos em um país onde 56% da população se identifica como negra ou parda, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Precisamos refletir sobre o impacto dessas figuras em nossa sociedade”.

Os jazigos de algumas delas, como de Luís Gama, Mário de Andrade, Emanoel Araújo e Paulo Lauro, podem ser visitados de forma monitorada no cemitério da Consolação, todas as segundas, a partir das 14h. O passeio é realizado com a mediação de Francivaldo Gomes, mais conhecido como Popó, que faz este trabalho no local há mais de 20 anos. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados no site da Sympla.

Abaixo é possível conferir sete dessas personalidades:

  1. Luís Gama (1830 – 1882)

Advogado, jornalista e escritor, Luís Gama é considerado o maior abolicionista do Brasil. Nascido de mãe negra e pai branco, foi vendido como escravo aos 10 anos e só conquistou sua liberdade aos 17, após alfabetizar-se por conta própria. Dedicou sua vida à causa abolicionista e ao combate da monarquia, libertando centenas de escravizados por meios legais. Em 2018, foi inscrito no Livro de Aço dos Heróis e Heroínas Nacionais. Luís Gama está sepultado no Cemitério da Consolação.

  1. Mário de Andrade (1893 – 1945)

Escritor modernista, folclorista e crítico literário, Mário de Andrade é uma das figuras centrais da Semana de Arte Moderna de 1922 e autor de obras como Pauliceia Desvairada e Macunaíma. Seu legado cultural vai além da literatura, abrangendo estudos sobre a cultura popular brasileira e a preservação do patrimônio histórico. Mário de Andrade também está sepultado no Cemitério da Consolação.

  1. Theodosina Ribeiro (1930 – 2020)

Primeira mulher negra a ocupar uma vaga de deputada estadual na Assembleia Legislativa de São Paulo e primeira vereadora negra da capital, Theodosina Ribeiro teve uma trajetória marcada pela luta por igualdade racial e direitos das mulheres. Professora, advogada e diretora de escola, destacou-se ao longo de três mandatos legislativos. Theodosina está sepultada no Cemitério Santana (Chora Menino).

  1. Adhemar Ferreira da Silva (1927 – 2001)

Primeiro bicampeão olímpico do Brasil e recordista mundial do salto triplo, Adhemar Ferreira da Silva foi um dos maiores atletas da história do país. Além do esporte, teve uma carreira acadêmica destacada, atuando como professor e adido cultural. É homenageado com estrelas douradas no escudo do São Paulo Futebol Clube, que representam seus recordes. Adhemar está sepultado no Cemitério Santana (Chora Menino).

  1. Almerinda Farias (1899 – 1999)

Advogada, sindicalista e política, Almerinda Farias Gama foi uma das primeiras mulheres negras a atuar na política brasileira. Nascida em Maceió, mudou-se ainda criança para Belém, onde começou sua trajetória como datilógrafa e cronista. Foi presidente do Sindicato dos Datilógrafos e Taquígrafos e apoiou a campanha de Bertha Lutz na Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Em 1933, foi uma das únicas mulheres na Assembleia Constituinte, representando o Sindicato dos Datilógrafos e Taquígrafos e a Federação do Trabalho. Em sua homenagem, a prefeitura de São Paulo instituiu o Prêmio Almerinda Farias Gama, destinado a iniciativas de comunicação ligadas à defesa da população negra. Almerinda foi sepultada no cemitério Vila Formosa I.

  1. Emanoel Araújo (1940 – 2022)

Artista e curador, Emanoel Araújo destacou-se como escultor, desenhista e diretor de instituições culturais. Fundador e diretor do Museu Afro Brasil, consolidou um espaço dedicado à preservação da herança africana no Brasil. Entre suas conquistas, recebeu uma medalha de ouro na 3ª Bienal Gráfica de Florença e dirigiu a Pinacoteca do Estado de São Paulo (1992-2002). Ele está sepultado no Cemitério da Consolação.

  1. Paulo Lauro (1907 – 1983)

Primeiro prefeito negro da cidade de São Paulo, Paulo Lauro foi advogado, professor e político. Durante sua gestão (1947-1948), realizou obras importantes como viadutos, mercados e restaurantes populares. Também exerceu mandatos como deputado federal e publicou obras sobre legislação eleitoral. Reconhecido por sua eloquência, destacou-se na advocacia ao defender casos célebres, como o “Crime do Restaurante Chinês”. Até seus últimos dias, trabalhou em seu escritório de advocacia, demonstrando paixão pela profissão. Está sepultado no Cemitério da Consolação.

Viviane Comunale destaca que essas personalidades exemplificam a força, a criatividade e a resiliência da população negra no Brasil. “São histórias que não apenas inspiram, mas também reforçam a importância da continuidade de lutar por um país mais justo e igualitário. Honrar essas memórias, especialmente na semana da Consciência Negra, é reconhecer a riqueza e o impacto de suas contribuições na construção de nossa história e identidade”, conclui a historiadora.